Piumhi testemunhou um momento histórico na tarde da última sexta-feira (15/03), com a abertura oficial do Centro de Fisioterapia Respiratória Itamar Soares dos Santos. Este centro, batizado carinhosamente em homenagem a “Itamar Santinho”, não apenas representa um avanço significativo em termos de infraestrutura de saúde na região, mas também destaca a dedicação e o legado de um profissional exemplar.
A cerimônia de inauguração foi marcada por uma atmosfera de celebração e gratidão, com uma multidão reunida para testemunhar este momento histórico para a comunidade. Entre os presentes estavam o prefeito Paulo César Vaz e a primeira dama Fernanda Craide, o vice-prefeito José Cirineu Silva, o presidente da Câmara Wilde Wellis de Oliveira e os vereadores Carlos Leonel Oliveira, Fábio Henrique Novaes Ferreira, José Antônio Camargo Júnior, Reinaldo dos Reis Silva e Shiley Elaine Gonçalves Rezende juntamente com outras autoridades locais e familiares do homenageado.
Durante o evento, os discursos ressaltaram não apenas a importância do centro para a saúde pública, mas também o papel inspirador de Itamar Santinho na comunidade. Emocionados, os presentes ouviram atentamente a leitura da biografia do homenageado, realizada pelo historiador Luiz Augusto, que destacou os inúmeros feitos e contribuições de Itamar Santinho para Piumhi.
A secretária de Saúde, Rosângela Aparecida Terra, compartilhou sua visão sobre o impacto positivo que este centro trará para a população, agradecendo a todos os envolvidos na concretização deste projeto. Ivana Mara, coordenadora do Centro, expressou sua gratidão pela realização deste empreendimento, destacando o apoio decisivo da prefeitura e da secretaria de Obras.
O prefeito Paulo enfatizou a importância deste marco para sua gestão, destacando não apenas a qualidade das instalações, mas também o significado simbólico de honrar a memória de Itamar Santinho. Ele agradeceu calorosamente a todos os funcionários municipais por seu compromisso e dedicação ao serviço público, fundamental para o sucesso deste centro.
O momento culminante da cerimônia foi o corte da fita e o descerramento da placa de inauguração, simbolizando a entrega oficial do Centro de Fisioterapia Respiratória Itamar Soares dos Santos. Esta conquista representa não apenas um avanço tangível na infraestrutura de saúde de Piumhi, mas também um tributo duradouro ao espírito altruístico e à dedicação de Itamar Santinho à sua comunidade.
BIBLIOGRAFIA DO HOMENAGEADO
ITAMAR SOARES DOS SANTOS – ITAMAR SANTINHO: AINDA JOVEM ARRIMO DE FAMÍLIA, POLÍTICO E ATUANTE NAS CAUSAS SOCIAIS E CULTURAIS – PARTE 1
Francisco Soares dos Santos e Laurita Soares Arantes se casaram em Piumhi em 6 de janeiro de 1943. Ele, natural de Piumhi, 23 anos, filho de José Soares dos Santos e dona Maria José das Dores. Ela, também natural de Piumhi, 17 anos, filha de Vicente Soares Ferreira e Ana Goulart Alves. Francisco era conhecido como “Chico Santinho” e Laurita era conhecida como dona Laura. Após o casamento ela passou a assinar Laurita Soares dos Santos. O casal teve dez filhos e o primeiro deles, Itamar Soares dos Santos, é o personagem central desta narrativa.
Itamar Soares dos Santos nasceu no dia 25 de outubro de 1943, na Mata das Capoeiras, zona rural do município de Piumhi, na Fazenda de seus pais. Sua primeira herança foi o apelido do pai, pois tornou-se conhecido como Itamar Santinho. Passou a infância na roça, onde teve poucas oportunidades de estudo, mesmo assim conseguiu aprender a ler e escrever frequentando uma escola rural até o quarto ano primário. Dono de uma inteligência nata, conseguiu consolidar-se intelectual e culturalmente através de alta capacidade de percepção e compreensão das coisas – era um verdadeiro autodidata. Sua infância não foi só escola, pois desde muito novo teve que ajudar no pesado trabalho da roça, o que lhe proporcionou aprendizados que lhes acompanharam durante toda a sua existência.
A dificuldade e a responsabilidade de Itamar Santinho aumentaram, consideravelmente, quando em 4 de maio de 1969, repentinamente, morreu a matriarca da família. Dona Laura morreu aos 42 anos de idade em decorrência de problemas cardíacos: deitou-se para dormir e nunca mais acordou. Além do trabalho na roça, Itamar teve que se dedicar à cozinha e ao cuidado dos irmãos mais novos: Luiz, João Batista e Ciro. Foi nesse momento que Itamar desenvolveu o gosto pela culinária, característica que também lhe acompanhou por toda a sua existência. Ainda na roça teve a oportunidade de realizar inúmeras peças de teatro, ao lado de Marlene de Souza Costa (Marlene do Totonho) e tantos outros, o que representava um momento de grande alegria para aquele povo sofrido, mas alegre.
Após a morte de dona Laura, Chico Santinho nunca mais foi o mesmo: desenvolveu um sentimento de tristeza, apatia e desânimo, o que hoje seria classificado como depressão e teria tratamento com alguns comprimidos. Cada dia que passava a tristeza aumentava e chegou ao ápice, quando, quatro anos após a morte de sua amada, tomou a tresloucada decisão de cometer suicídio. Não cabe julgamento, pois não se sabe a dimensão da tristeza que rondava o coração do patriarca daquela família. Chico Santinho encontrou alívio aos seus sofrimentos no dia 5 de setembro de 1972, quando faleceu aos 54 anos.
Mais uma vez o peso da responsabilidade de Itamar Santinho aumentou: passou ele a ser o arrimo da família e responsável por comandar aquela numerosa família. Aos poucos os irmãos foram crescendo, casando-se e tomando seus rumos na vida. Itamar, ainda jovem, tornou-se cozinheiro de comitivas que transportavam gado para Goiás, Paraná e outros estados. Imagine as dificuldades de uma viagem destas: imensa distância percorrida a pé ou no lombo de um cavalo ou muar, intempéries climáticas, sol escaldantes, chuvas torrenciais, rios caudalosos, riscos de assaltos, entre outros. Cozinhar para um grupo de trinta pessoas também não era uma tarefa fácil, mas Itamar gostava da função e a cumpria com o maior zelo possível.
O trabalho na roça o colocou próximo do sofrimento humano, desenvolvendo nele uma grande capacidade de solidariedade, de querer ajudar as pessoas, principalmente, os mais necessitados. Esta é outra característica que se tornou importante marca de sua identidade.
No dia 25 de maio de 1968, ano do primeiro centenário de Piumhi, Itamar Santinho se casou com Maria Joana Neta, conhecida como dona Cruzinha – apelido herdado da avó que se chamava Maria Joana Cruz, conhecida como Sá Cruz. Cruzinha era natural de Piumhi, tinha 27 anos na ocasião do casamento e era filha de Braz Rezende Silva (Cicino Silva) e Jovina Emília da Silva. Após o casamento passou a assinar Maria Joana dos Santos. Itamar tinha 24 anos naquela ocasião. Nascia naquele momento uma história de amor e cumplicidade que teria a duração de 51 anos. Itamar e Cruzinha tiveram um casal de filhos: Jasmenor, nascido em 1971 e Juliana, nascida em 1979. Os “meninos” como Itamar os chamava foram criados em Piumhi para frequentarem melhores escolas, mas o patriarca continuava buscando sustento no trabalho na cidade e na roça. A vida naquele tempo não era fácil, o dinheiro tinha pouco poder de compra e era muito comum a troca de mantimentos entre as pessoas. Itamar foi um excelente pai, sempre dedicado à família, amoroso carinhoso, atencioso e preocupado. Mesmo cuidado que dispensava a todos os seus irmãos, principalmente aos mais novos que o tinham como pai, aos primos, cunhados etc. Apesar de todos esses sentimentos sabia chamar a atenção e “puxar a orelha” quando necessário.
ITAMAR SOARES DOS SANTOS – ITAMAR SANTINHO: AINDA JOVEM ARRIMO DE FAMÍLIA, POLÍTICO E ATUANTE NAS CAUSAS SOCIAIS E CULTURAIS – PARTE II
O espírito caritativo e o constante desejo de ajudar ao próximo, principalmente os menos favorecido, acabaram por conduzi-lo à política. Foi eleito para o cargo de vereador por três mandatos consecutivos na época dos prefeitos: Dr. José Garcia Pereira (1989 a 1992), Wilson Marega Craide – Craidinho (1993 a 1996) e Dr. João Batista Soares (1997 a 2000). Assumiu um quarto mandato de vereador, como suplente, após o falecimento do parlamentar Pedro Rezende Silva. Como vereador sempre destacou para as questões sociais e culturais. Dentre os inúmeros projetos e proposições destaca-se a construção da quadra esportiva no bairro Pindaíbas, obra que retirou muitos jovens das ruas e do mau caminho. Também incentivou a realização de carnavais, festa que era sua verdadeira paixão e pela qual tinha especial dedicação. Ainda no poder público, teve a oportunidade de comandar as creches e trabalhar na área social na época do prefeito Arlindo Barbosa Neto (Marcinho Contador).
Como dissemos, o Carnaval era uma de suas maiores paixões. Criou blocos carnavalescos e promoveu desfiles de escolas de samba. Defendia a ideia de que o Carnaval deveria ser para todos por isso incentivava essas festas populares, vez que os ricos poderiam brincar seu carnaval no Piumhi Tênis Clube. Terminado o carnaval de um ano, Itamar Santinho fazia contato com amigos das escolas de samba do Rio de Janeiro e conseguia vestes, alegorias e instrumentos musicais que eram trazidos numa Kombi lotada e que serviriam para alegrar as escolas de samba mais pobres de Piumhi no carnaval do ano seguinte. Fez isso por diversas vezes, sem ganhar nada em troca, apenas pelo prazer que sentia em ajudar e pelo amor que tinha ao carnaval.
Como festeiro foi responsável pela organização de inúmeras festas de casamento, noivados, bodas e outras mais. Sempre se dedicava ao máximo para que tudo desse certo. Ajudou por diversas vezes instituições sociais como a APROMIP, Sociedade São Vicente de Paulo, Paróquia Nossa Senhora do Livramento e outras. Muitas dessas ajudas eram para escarnear vacas para a realização de festas ou para o consumo das entidades. Sua essência era ajudar, não importava quem, quando e nem onde.
Itamar Santinho ficou viúvo em 17 de setembro de 2021. Cruzinha morreu em decorrência de complicações da COVID-19, triste pandemia que assolou o mundo durante mais de dois anos. O mais triste foi que não houve velório e Itamar não pode sequer se despedir da companheira de mais de 50 anos de caminhada. Acompanhou a cerimônia de despedida à longa distância, sentindo muito a perda da esposa.
Desde então, Itamar teve agravado seus problemas de saúde: as dores na coluna provocadas por excesso de peso, diabetes, doença de chagas e hipertensão arterial – tudo rigorosamente tratado. Mas em fins de março e início de abril de 2023 apresentou uma grave obstrução intestinal, cuja solução viável seria a realização de uma intervenção cirúrgica, mas como o CTI de Piumhi estava temporariamente fechado em decorrência de crise financeira na Santa Casa de Misericórdia, o médico o encaminhou para Passos onde o procedimento foi realizado. Mas seus problemas de saúde não ajudaram na recuperação e no dia 4 de abril de 2023, faleceu naquela cidade, deixando uma lacuna irreparável no coração dos familiares, amigos e da sociedade piumhiense como um todo.
Itamar Santinho deixou 5 netos e 3 bisnetos, mas mais que isso deixou um legado importante para a sua família e para a sociedade piumhiense: humildade, generosidade e o espírito de serviço aos mais humildes. Sua história de vida é um exemplo para a sociedade contemporânea a fim de buscarmos uma comunidade mais justa e igualitária.